sexta-feira, 8 de maio de 2020

Depois de depois de você


Papel Adesivo Contact Laranja Fosco Lavável 45 Cm X 10 Metros ...

Tudo começa com o jogo da afinidade. Na busca pela alma gêmea, uma herança platônica através do personagem Aristófanes, procuramos insistentemente características comuns em nós. Hábitos preferidos, interesse por leitura, proximidade em datas especiais, pessoas de afeto em comum, grupos sociais divergentes, filmes preferidos, músicas marcantes, cor. Desejamos ser perfeitos um para o outro. E foi aí que o amarelo venceu. Aliás, amar era nosso elo. Era! Usar o verbo no passado é por demais pesado. Depois de você poderia dizer que tudo perdeu o sentido. Soa estranho, pesado e mentiroso. Declaro que acima de tudo é mentiroso. Depois de depois de você tudo ganhou outro sentido que em alguns momentos ainda não consigo definir racionalmente. Preciso amadurecer algumas ideias, muitas coisas. É uma idiotice procurar uma alma gêmea. Por que será que fizeram essa maldade de nos permitir crer nisso? A sociedade é cruel. Gosto dessa frase de efeito. A sociedade é cruel. Ponto.
Depois de depois de você as coisas tendem a ganhar novo sentido porque quero me livrar de tudo que me faz lembrar você. Especialmente nossas afinidades. Especialmente. Sou obrigado a buscar por novos cantores, novas bandas, novas literaturas, programas de TV, críticos de teatro e, até mesmo, passar a odiar vitamina de abacate. Odiar vitamina de abacate é a mais difícil das mudanças. Passei a usar vermelho. Estou fingindo bem que gosto. Deixei de usar amarelo. Nossa cor preferida juntos. Com o tempo acabei descobrindo que o vermelho me lembra mais você que o próprio amarelo. Sinto o vermelho como o amarelo elevado ao cubo. Isso quer dizer que a intensidade de ter lembranças suas usando o vermelho é terrivelmente pior que o uso da cor do sol. Sem contar que fico péssimo com essa cor quente. Enfim, usar vermelho é auto sabotagem. Pois quando faço algo que odeia te torno ainda mais presente. Por uma questão lógica, o certo seria usar laranja. Sim! Laranja. Raciocina comigo: vermelho menos amarelo é igual a alaranjado. Sendo assim, você cairia num limbo perpétuo. O que não gosto subtraído pelo que amo resulta em indiferença, esquecimento. Está decidido! A partir de amanhã meu guarda roupa estará tão alaranjado que nunca mais sofrerei de insuficiência de Vitamina D.
O pior de tudo é ter que me reinventar. Pensa bem! Nunca me preocupei numa paleta de cores que combine com laranja. Pelo menos vou me ocupar com algo novo. Sou obrigado a agradecer por me abrir um novo horizonte de descobertas. Por que será que caímos nessa história de almas gêmeas? Isso é bem desgastante. Vou encerrar esse texto por aqui. Preciso descobrir cores que combinam com minha nova cor predileta e separar para doação todas as peças vermelhas e amarelas. Ainda me acerto com Platão!

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Quando chega o amor?



Ilustrassom - Quando chega o amor...❤️ #TáCombinado... | Facebook


Preciso cumprir o ritual da despedida. Faz-se necessário escrever sobre nós, tentar racionalizar tudo, como numa sessão de terapia. Chegamos até aqui pela insistência sedutora da carência. Sim. Carências que se coincidem são um prato cheio para o ‘vôo de galinha’ nos relacionamentos. Atropelamos acontecimentos, prometemos o que não podemos cumprir e cobramos o que não temos direito. Erramos todos. Eu errei. Você errou. As circunstâncias atrapalharam. Nossas fases conflitantes se transformaram em abismo. Talvez estejamos dispostos para o amor, mas não entre nós dois. Ao mesmo tempo queremos deixa no ‘stand by’. Falta-nos coragem para finalizar.
Curioso como estava tudo combinado. Não tinha engano, muito menos mistério. Era tudo brincadeira e verdade, como a canção de Caetano. Não tivemos maturidade de ver o mundo juntos, sermos dois e sermos muitos. Estamos apenas nos fazendo sós. Você finge ter coragem acusando meus medos. Finjo não perceber os seus medos e até demonstro uma admiração falsa por suas palavras desafiadoras. Coisa estranha! Somos um casal sem o ser. Somos uma confusão.
Todos os filmes que me indicava já havia assistido. Isso me fazia – e faz – sorrir. É uma boa lembrança. Em contraponto, o mundo que queria me apresentar era totalmente novo e minhas preocupações não cabiam nele. Desejei te inserir no meu planeta, tão pequeno quanto o asteroide B-612, e você transbordava nele. Você no meu planeta era como Cláudia Raia num musical. Acredito que foi aí que nos perdemos. Faltou o que mais prezo, o equilíbrio.
Interessante como falta no amor tecnicidade. De qualquer forma, ainda acredito num claro futuro. Um futuro de música, ternura e aventura. Continuaremos um equilibrista em cima do muro. Dessa vez, o equilibrista que vos escreve estabacou-se. A verdade é que o amor não chega onde a carência faz morada.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Seu mar somos nós


Resultado de imagem para botafogo rio de janeiro por dosol




Estar no chão do quarto, usando os ‘óculos da reflexão’ e voltando a escrever textos não me parece bom a essa altura do campeonato. Você fez isso! Sinto que preciso me despedir do que fomos, do que vivemos, do que sentimos. Está difícil. Finalizar uma relação numa ‘guerra fria’ soa insensato, insano. injusto. Quero brigas, injúrias, verdades mal ditas e desnecessárias, quero arrependimento e pedido de desculpas. Volta aqui! Onde foi que nos perdemos? Quando me distanciei era pra você chegar mais perto. Nunca fui bom nessa história de sedução reversa (se é que isso existe). Você simplesmente aproveitou a oportunidade e, como aqueles pedalinhos, se foi aos poucos e silenciosamente. Já me enxerguei em sua face, pois era desnecessário me olhar no espelho. Nossas mães ainda são compartilhadas, o que restou do que tínhamos em comum. Errei ficando desatento aos seus sinais de pedidos de socorro. A responsabilidade também foi sua. Cara, não tem rancor. Como uma relação pode terminar sem rancor? Isso é patético! Mas se tratando de nós, tinha que ser diferente. Os diferentões. (Estou rindo, mas chorando também.) Eu sou você, e você sou eu. Sabia?! Sabe sim! Queria só dizer que, apesar de não acreditar, sei exatamente o que está sentindo. Essa pseudo felicidade, essa sensação de liberdade, essa vontade de se refazer, essa certeza habitando o seu ser, essa vontade, essa vontade... não será eterno. Por favor, volta! Deixe-me ver novamente aí. Parece egoísta, mas era assim que você era feliz. Vem aqui me xingar, incentivar, reclamar, sugerir, pedir, chorar, sorrir... Estou aqui escrevendo no computador que era seu, usando meia e chinelo em pleno Verão (combinação que você odeia), ouvindo músicas que você não entende (mas ouvia pra eu ouvir as suas que eu não gostava). Estou pedindo seu retorno ciente que a sua volta poderá demorar. Você cansou! Precisa de férias. Seu coração está dividido. Poxa vida! A que ponto chegamos?! Você nem vai ler isso. Você não vai porque se foi. A culpa também foi minha. Quer saber?! Vá viver o que precisa viver. Sei que vai voltar. E não é praga. O seu rio pode traçar muitos caminhos, mas o seu mar somos nós.

sábado, 30 de setembro de 2017

Nem sempre nós ficamos com os amores das nossas vidas

Resultado de imagem para Nem sempre nós ficamos com os amores das nossas vidas


Por Heidi Priebe (tradução)


Eu acredito em grandes amores.
Mas falo e namoro como se não acreditasse.
Eu não tenho expectativas fúteis para o romance. Eu não estou à espera de sentir aquela sensação estranha de estar a flutuar. Eu sou um daqueles indivíduos raros, talvez um pouco cansados, que realmente gosta deste ambiente atual de conexão entre as pessoas e é feliz por viver numa época em que a monogamia não é necessariamente a norma.
Mas eu acredito em grandes amores, porque já tive um.
Eu tive esse amor que tudo consome. O amor do tipo “eu não posso acreditar que isto existe no mundo físico.”
O tipo de amor que irrompe como um incêndio incontrolável e então se torna brasa que queima em silêncio, confortavelmente, durante anos. O tipo de amor que escreve romances e sinfonias. O tipo de amor que ensina mais do que tu pensaste que poderias aprender, e dá de volta infinitamente mais do que recebe.
É amor do tipo “amor da tua vida”.
E eu acredito que funciona assim:
Se tu tiveres sorte, conhecerás o amor da tua vida. Tu estarás com ele, aprenderás com ele, darás tudo de ti a ele e permitirás que a sua influência te mude em medidas insondáveis. É uma experiência como nenhuma outra.
Mas aqui está o que os contos de fadas não te vão dizer – às vezes encontramos os amores das nossas vidas, mas não conseguimos mantê-los.
Nós não chegamos a casar-nos com eles, nem passamos anos ao lado deles, nem seguraremos as suas mãos nos seus leitos de morte depois de uma vida bem vivida juntos.
Nós nem sempre conseguimos ficar com os amores da nossa vida, porque no mundo real, o amor não conquista tudo. Ele não resolve as diferenças irreparáveis, não triunfa sobre a doença, ele não preenche fendas religiosas e nem nos salva de nós mesmos quando estamos perdidos.
Nós nem sempre chegamos a ficar com os amores das nossas vidas, porque às vezes o amor não é tudo o que existe. Às vezes tu queres uma casa num pequeno país com três filhos e ele quer uma carreira movimentada na cidade. Às vezes tu tens um mundo inteiro para explorar e ele tem medo de se aventurar fora do seu quintal. Às vezes tu tens sonhos maiores do que os do outro.
Às vezes, a maior atitude de amor que tu podes ter é simplesmente deixar o outro ir.
Outras vezes, tu não tens escolha.
Mas aqui está outra coisa que não te vão contar sobre encontrar o amor da tua vida: não viveres toda a tua vida ao lado dele não desqualifica o seu significado.
Algumas pessoas podem amar-te mais em um ano do que outras poderiam te amar em cinquenta anos. Algumas pessoas podem ensinar-te mais em um único dia do que outras durante toda a sua vida.
Algumas pessoas entram nas nossas vidas apenas por um determinado período de tempo, mas causam um impacto que mais ninguém pode igualar ou substituir.
E quem somos nós para chamar essas pessoas de algo que não seja “amores das nossas vidas”?
Quem somos nós para minimizar a sua importância, para reescrever as suas memórias, para alterar as formas em que nos mudaram para melhor, simplesmente porque os nossos caminhos divergiram? Quem somos nós para decidir que precisamos desesperadamente substituí-los – encontrar um amor maior, melhor, mais forte, mais apaixonado que pode durar por toda a vida?
Talvez nós devêssemos simplesmente ser gratos por termos encontrado essas pessoas.
Por termos chegado a amá-las. Por termos aprendido com elas. Pelas nossas vidas se terem expandido e florescido como resultado de tê-las conhecido.
Encontrar e deixar o amor da tua vida não tem que ser a tragédia da tua vida.
Deixá-lo pode ser a tua maior bênção.
Afinal, algumas pessoas nunca chegam sequer a encontrá-lo.

Fonte: ContiOutra

domingo, 20 de agosto de 2017

Vacilamos




 Resultado de imagem para vacilamos

Vacilamos! Todos os dias, insistentemente. Vacilamos quando não damos ouvidos aos nossos pais, especialmente, na fase da adolescência. Vacilamos quando nos apaixonamos perdidamente pela pessoa errada. Vacilamos quando não reconhecemos, ou menosprezamos, um verdadeiro amigo. Vacilamos mais ainda quando não escutamos os sinceros conselhos deste amigo. Vacilamos quando não somos o adulto que queríamos ser quando criança, a pessoa da qual nos orgulharíamos. Vacilamos quando esquecemos, ou adiamos o envio, de uma mensagem de ‘Boa Noite!’. E continuamos a vacilar, constantes e (in)consequentes. Permitimo-nos ser influenciados por más ações, nos estressar por problemas que não nos cabem, por exagerar sentimentos, por esperar demais ou por ser imediatistas. Simplesmente vacilamos por causar dor do outro, por preocupar o outro, por julgar o outro (e essa história de juiz é pesado e perigoso). Vacilamos por egoísmo, por orgulho, por excesso de experiência - ou a falta dela. Vacilamos quando temos dificuldade de agir de acordo com a lei, apesar de não estarmos rodeados de bons exemplos. Vacilamos por não lutar para ser um bom exemplo. Vacilamos quando desejamos fazer justiça com as próprias mãos, desrespeitando o próximo. Vacilamos quando moldamos o mundo à nossa maneira, quando rotulamos, quando perdemos a paciência no momento que mais precisamos demonstrar. Vacilamos quando desistimos de nossos bons objetivos no meio do caminho por medo, insegurança, impaciência, influências negativas ou ignorância. Vacilamos quando festejamos a desgraça alheia. Eu vacilo. Tu vacila. Nós continuamos vacilando e incomodando. A palavra vacilo está tatuada em nossa alma, em nosso ser – visível ou não. Sejamos juízes de nós mesmos, decerto teremos uma vida mais significativa.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Pizzaria de bons sentimentos



Resultado de imagem para pizzaiolo de amor


Esse texto não pode começar de outra maneira se não por um protesto contra a maneira em que as matérias são ensinadas na alfabetização das crianças. Nada contra as professoras, mas, sim, contra a didática utilizada para ensinar a soma, subtração, divisão e multiplicação. Por favor, revejam a prática de ensino dessas matérias. Isso fará bem para o emocional e vida social de seus alunos quando adultos. Ainda não me entendeu? Vou expor melhor as ideias.
De alguma forma (bem louca – e que não sei explicar) a divisão está relacionada à subtração. Percebo isso na forma como muitas pessoas expõem seus pensamentos, mesmo inconscientemente. Temos o hábito de achar que o nosso irmão mais novo irá roubar um pouco (ou tudo) do amor de nossos pais, muitos de nós acreditamos que nossos amigos vão nos amar menos quando criarem novas amizades, que o sentimento de nossa(o) namorada(o) é menor que o que sentia pelo(a) ex. Comparamos diminuindo. Isso é bem curioso. Lanço logo um conselho: ‘Examine cada um seus próprios sentimentos (principalmente pelo outro), e então terá motivo para se alegrar apenas com respeito a si mesmo, e não em comparação com outra pessoa. Pois cada um crescerá com o amor que nutrir.’
Voltando à sala de aula, o erro pode estar ao exemplificar a divisão usando a famosa, saborosa, desejada, amada pizza. Sim... A pizza! Quem nunca ouviu a famosa possível questão de prova: ‘João comprou uma pizza e partiu-a em oito pedaços para dividir com mais três amigos. Quantas fatias da pizza cada um comeu?’ Logo pensava na pizza como um sentimento completo, amor total. Amor total que foi cruelmente partido e divido até se acabar. Estava errado. O amor não é uma pizza, é uma pizzaria. Qualquer bom sentimento é uma pizzaria. Bons sentimentos devem apenas ser produzidos, entregues, servidos para alimentar nossas almas sedentas do que é bom e agradável. Assim como qualquer excesso deve ser digerido e eliminado no bolo fecal, naturalmente os maus sentimentos.
Professoras, usem a pizza como exemplo de multiplicação. Montem com seus alunos belos cálculos de pizzarias. Ajudem a compreender que o que deve ser subtraído são as maldades, mágoas, coisas ruins. O que deve ser divido são as tristezas, problemas. Faça-os compreender a importância de somar o perdão, a generosidade, paciência, o cuidado com o outro em suas vidas. E multipliquem o amor. Que sejam servidas muitas pizzas de amor!

domingo, 11 de junho de 2017

Piada de Estimação - Texto de Quinta

 Resultado de imagem para perdeu a graça



Eu tinha uma piada de estimação. Era bem engraçada e eu a tinha escondida na manga para os mais diversos momentos. Como era engraçada! E como eu ficava engraçado contando-a. Podia contá-la nas mais diferentes situações que era batata, risos ecoariam. Com o tempo eu fui melhorando o modo de contá-la conquistando ainda mais gargalhadas por onde eu passasse. Até que aconteceu o que parecia impossível: a piada perdeu a graça. Mais que isso, ela virou algo absolutamente constrangedor.
Pior, fui descobrir isso na prática enquanto a contava numa roda predisposta ao riso. Enquanto contava fui percebendo seu teor que até então tinha passado batido. E isso é o mais curioso, como eu nunca tinha me atentado para o fato de que a essência daquela piada era de extremo mal gosto e reafirmava estereótipos que eu sempre repudiei? Como eu já estava contando, resolvi ir até o fim. Mas ao invés de risos o que vi foram olhares de constrangimento uns para os outros. E é evidente que o mais constrangido era eu. A primeira pergunta que me veio foi “o que havia mudado naquela piada que antes causava tantos risos?”. E não estou falando de muito tempo. Falo de meses. Mas logo eu entendi que essa era a pergunta errada. A piada não havia mudado. Nem o humor geral. O que estava mudando era nossa cultura. Será?
Essa questão parecia ir além do dito politicamente correto. Parecia uma evolução disso. Era cultural rir daquilo. E agora parecia também cultural repudiar rir daquilo. Algo estava mudando no nosso modo de ser. Ao menos naquela roda que de alguma forma representava uma parcela da nossa sociedade. Será?
Pensei em escrever a piada aqui pra deixar mais claro o que digo, mas concluí que isso é desnecessário por dois motivos. O primeiro é que não preciso passar por tal constrangimento novamente. Nunca mais. O outro motivo é que essa minha ex-piada representa tantas outras de teor parecido e que estão absolutamente ultrapassadas.
Quando eu disse que a piada não faz mais parte do meu repertório tenho que dizer que na verdade aquela era a única piada do meu repertório. Nesse sentido me sinto órfão. Sempre que começavam a contar piadas eu já me preparava pra contá-la. O que vou fazer daqui pra frente? Apenas rir das piadas dos outros é o que me resta. Ou posso tentar decorar alguma outra piada de que goste. Mas sou muito ruim pra decorar piada. Por isso aquela era como que minha filha única. A verdade é que apesar de ser ator e ter textos longos decorados (posso dizer que tenho quatro peças na ponta da língua agora – dentre elas três monólogos), não sou bom pra lembrar de piadas. Nem músicas. Infelizmente não me lembro da maioria das letras das minhas músicas preferidas. Sei de cor apenas meia dúzia do Caetano. Se quiser posso cantar agora. Mas piada aquela era a minha única. E já comecei a esquecê-la. Infelizmente felizmente.
Quando digo que sinto que há uma mudança cultural em curso, é porque não se trata mais apenas do politicamente correto. Acho que ele foi e é fundamental para chegarmos a esse ponto de uma mudança no nosso modo de pensar as relações. E se você reparar bem, os que mais repudiam o politicamente correto são os mais interessados na manutenção daquele status quo. Os que se dizem “cansados dessa coisa de politicamente correto” querem apenas a manutenção dos seus preconceitos. Pra mim esse foi (e é) um caminho importante para superarmos preconceitos introjetados em nossa cultura. Pois bem, seria preciso mudar suas perspectivas. Será?
Claro que ainda estamos longe de superarmos aquilo que por muito tempo fez parte de nós. A cultura do estupro, por exemplo, ainda faz parte da nossa sociedade. Tal como os mais diversos tipos de preconceitos. Mas creio eu que há uma mudança em curso. E pra que essa mudança se efetive e se efetue será preciso muita gente passar por constragimentos como o que passei. Ou sentir na pele o que tais situações antes digna de riso de fato significam.
Desejo que os constragimentos se proliferem cada vez mais até que de fato comecemos uma mudança cultural efetiva.
Enquanto isso estou buscando piadas que ridicularizem os que de fato merecem esse lugar. Está mais do que claro que rir do oprimido é no mínimo ridículo. É preciso rir, rir é preciso. Mas é preciso saber do que se ri.
Alguma sugestão de piada? Prometo cuidar dela com todo meu afeto, como se fosse única. E será. Será?

 - Vinícius Piedade

(Texto de Quinta - publicado todas as quintas-feiras no site viniciuspiedade)